Hãtxa Kuin, língua verdadeira
1, julho, 2014
Houve um tempo – e não faz tanto tempo – que o povo Huni Kuin era proibido de falar a própria língua, Hãtxa Kuin (“língua verdadeira”), chamada de “gíria” pelos nawas (brancos) no tempo do seringal.Foi assim que muitos perderam o contato com sua língua materna, fundamental para garantir a identidade de um povo. Hoje, na aldeia São Vicente, na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Humaitá, no Acre, é com orgulho que crianças, jovens, adultos e velhos “falam na língua”. Na escola, onde os professores são todos indígenas (pais e tios da aldeia), o estudo do Hãtxa Kuin é bem importante.
Antes, a escola funcionava num cupixau, que é uma maloca, uma casa grande comunitária como as que os Huni Kuin viviam no passado. Durante a visita do projeto Tecendo Saberes em maio, as aulas aconteciam em casas da aldeia. As atividades muitas vezes começam com uma música cantada na língua materna e, ao final, surgem animados gritos de guerra.
Repetimos na aldeia a experiência do Alfabeto Local, só que aqui a missão era desenhar o alfabeto Hãtxa Kuin, cuja escrita é recente, data dos anos 80 e que tem suas especificidades. Por exemplo, entre as vogais, inexiste a letra “o”. Também não estão no alfabeto outras letras, como “c” ou “f”.
Foram muitos bichos que surgiram para representar as letras do alfabeto:
Bitxu = garça
Mari = cutia
Txashua = veado
Xinu = macaco
Yube = jiboia
A língua Hãtxa Kuin pertence à família linguística pano, cujos falantes habitam o Brasil, Peru e Bolívia. As famílias linguísticas agrupam línguas que apresentam semelhanças gramáticas e de vocabulário. Já as famílias que se assemelham são reunidas em troncos linguísticos.