A primeira etapa do projeto Tecendo Saberes retorna para a região paraense do Baixo Amazonas e contempla os municípios de Óbidos e Oriximiná.
Na região paraense do Baixo Amazonas vivem cerca de 60 comunidades remanescentes de quilombos, organizadas em uma rede ativa de associações. Os quilombolas dessa região foram pioneiros na luta para fazer valer os direitos assegurados na Constituição e, em 1995, conquistaram a primeira titulação de terra de quilombo no Brasil. Hoje o Baixo Amazonas soma aproximadamente 43% da dimensão total de terras tituladas no país.
A primeira incursão do projeto Tecendo Saberes na região aconteceu em 2012, em Óbidos, nas comunidades quilombolas de Silêncio, Cuecé, São José e Mondongo – ao redor do Igarapé Grande, um braço do Rio Amazonas. Em 2014 o projeto retorna ao Pará para contemplar uma outra realidade socioambiental da cultura extrativista afro-amazônica e amplia a sua atuação para o município de Oriximiná, na comunidade de Cachoeira Porteira.
Diferente dos quilombolas de Óbidos, que vivem nos entornos de uma floresta bastante devastada e tem o seu cotidiano definido pela vida ribeirinha, as 90 famílias de Cachoeira Porteira ocupam uma área preservada da Floresta Amazônica, às margens do Rio Trombetas – a mais de 800 km da capital, Belém. São cerca de 400 moradores pautados pelo manejo da Castanha-do-Pará e atividades secundárias como pesca e produção de farinha, que compartilham uma vida isolada na floresta.
Apesar das diferenças entre eles, os quilombos dos dois municípios partilham uma história em comum, já que foram constituídos por escravos africanos trazidos à região para trabalhar nas fazendas de gado e cacau do século 18. Segundo historiadores, grande parte desses africanos pertencia a etnia Bantu, da região congo-angolana. E foi por meio de resistência – política e também física –, de adaptação às condições da vida amazônica, do contato e interação com os índios e do aprendizado de formas eficientes de exploração da floresta, que estes quilombolas alicerçaram sua cultura material e imaterial.
A extração da Castanha-do-Pará, herança desta época, constitui forte elemento de identidade cultural, que define desde a escolha da ocupação das terras, consideradas bem comum pelas famílias, até o repertório de tradições (festas, canções, culinária) e práticas sociais e econômicas. Esta relação profunda dos ‘castanheiros’ com a floresta se reflete em um ativismo ambiental que tem garantido a preservação da área, um exemplo de sustentabilidade reconhecido internacionalmente, mas nem sempre valorizado no país.