Com a palavra, os professores
18, maio, 2015
Professores de escolas públicas das áreas mais remotas do Brasil se dedicam a tentar preservar os saberes e fazeres de suas comunidades através de iniciativas próprias ou fomentadas por programas governamentais. Mesmo assim, em quase todos os lugares por que passamos ainda existe uma lacuna de materiais pedagógicos que aborde temas locais.
Uma das grandes inspirações para o Tecendo Saberes foi a demanda dos próprios professores por esse tipo de material. Por isso uma parte essencial do projeto são encontros com professores e mediadores para pensarmos juntos maneiras de utilizar os manuais em sala de aula e inspirar novos projetos locais.
Foi o que aconteceu em Cachoeira Porteira (PA). Com o “Manual das Crianças do Baixo Amazonas” em mãos, os professores passaram a enxergar nele um material de trabalho. “O que me chamou muito a atenção foi o despertar dos alunos, eles próprios estarem se vendo no livro”, disse o professor Robson Cordeiro Rocha, que dá aulas há 10 anos.
“É uma fonte pedagógica para construir com os alunos um novo olhar nas questões da realidade da comunidade”, afirmou Adriana Helena Silva de Souza.
A professora Nazaré Tavares diz que agora vai dar mais valor ao que tem em sua comunidade: “Já conhecia esses saberes todos e não os valorizava. Por exemplo, eu tenho a castanheira perto da minha casa e não valorizo essa cadeia inteira. Nunca falei na minha turma da alimentação dela, como eu posso extrair [os frutos], como posso manusear. O livro vem clarear as minhas ideias”.
Ao folhear o livro, se inspirou e começou a montar uma aula: “Na educação infantil, quero trabalhar a parte dos nutrientes da castanha, trabalhando com desenhos, e depois, pedir material [as castanhas]. Vamos confeccionar um mingau e tomar juntos. Dá para trabalhar matemática, linguagem oral e escrita, artes plásticas e visuais. Tudo!”
Os castanhais serão objeto de trabalho na aula de geografia do professor Robson Cordeiro Rocha, também de Cachoeira Porteira. “Irei trabalhar os castanhais da região. Tem muitos alunos e até adultos que não conhecem os nomes dos castanhais. Por exemplo, o Castanhal do Pirarara, que é muito distante e leva três dias para chegar lá, e há castanhais próximos, em que o coletor vai de manhã e retorna à tarde. E também [vou abordar] a diferença que há entre castanhais de regiões de cachoeiras e os dos lagos.”
O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.