Vem muito mais por aí

20, julho, 2015

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Nas férias de julho, o Projeto Tecendo Saberes continua a espalhar a sabedoria e o imaginário das crianças do Norte do Brasil pelas bibliotecas municipais de São Paulo. Além de contação de histórias com a Cia. Conto em Cantos – que mistura causos, situações do dia a dia, encantamentos com instrumentos musicais e objetos trazidos da região amazônica – e projeção de vídeos, teremos exposição de fotos e fotoilustrações dos livros “Manual das Crianças do Baixo Amazonas”, feito com cinco comunidades quilombolas no Pará, e do “Manual das Crianças Huni Kuĩ”, desenvolvido com indígenas do Acre.

Estaremos na Biblioteca Hans Christian Andersen (avenida Celso Garcia, 4.142, Tatuapé, na zona leste), na terça-feira, 21/7, às 10h, e na Belmonte (rua Paulo Eiró, 525, Santo Amaro, na zona sul), no sábado, 25/7, às 11h. Os eventos são gratuitos e voltados a crianças de 6 a 12 anos, pais e educadores.

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista e palestrante Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e é patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Crianças de SP aprendem sobre vida no Norte

15, julho, 2015

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Garoou e fez frio no último sábado em São Paulo, mas quem estava no evento Tecendo Saberes das Crianças do Norte nem percebeu. Tanto as crianças quanto os adultos brincaram de roda e ouviram histórias com a Cia. Conto em Cantos, comeram pipoca enquanto assistiam a vídeos e se deliciaram com comidinhas criadas com ingredientes do Norte do Brasil pela chef Rita Taraborelli. Teve também exposição de fotos, pintura indígena no rosto, além do contato com os livros e os ambientes da Biblioteca Monteiro Lobato.

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A idealizadora do projeto, a artista e palestrante Marie Ange Bordas, contou que tudo começou quando ela foi visitar comunidades tradicionais brasileiras e percebeu que as crianças sabiam de tudo _ o nome dos bichos e das plantas, inventar brinquedos, quando ia chover _, mas essa riqueza de conhecimentos nem sempre era valorizada por adultos e/ou projetos culturais. Junto com os meninos e as meninas de cinco comunidades quilombolas e do povo indígena Huni Kuĩ, foram produzidos livros que contam um pouco dessas realidades.

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As diferenças culturais chamaram a atenção das crianças que foram à biblioteca. Catharina Faraco, 8 anos, disse que ficou surpresa ao ver  crianças quilombolas construírem uma casinha sozinhas e adorou as imagens das brincadeiras nos rios. “Se estivesse lá, eu ia querer pescar.”

O Projeto Tecendo Saberes tem parceria com o Instituto Catitu e é patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Causos e lendas

19, junho, 2015


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Quando se fala em lendas amazônicas, logo se pensa no Boto, na Matinta Perera ou na Mãe d’Água, histórias e personagens que passam de geração em geração. Mas neste mundo da floresta, onde realidade e encantamento se confundem, cada comunidade tem seus próprios causos, lendas e visagens.

Em Cachoeira Porteira, por exemplo, todos conhecem o “Pretinho do Porão”, que vive no fundo da cachoeira desde que os portugueses perseguiam os quilombolas.

No Tecendo Saberes, além de valorizar este repertório local já existente, instigamos as crianças a contarem e inventarem suas próprias histórias a partir de fatos de seu cotidiano, ouvidos ou de sua imaginação. Assim quase tudo pode virar causo!

Na beira do Amazonas, muitas crianças juram que já viram a onça d’água, que tem orelhas grandes e é muito malina e encantada. Lá, ela é chamada tapiraiauara e dá medo em muita gente.

As crianças indígenas Huni Kuĩ, da Aldeia São Vicente, no Acre, também têm uma história de onça. Ela quis pegar o reflexo do macaco na água amarrando uma pedra no pescoço. O resultado? A onça morreu, e ele ainda está vivo por aí.

Os causos infantis reúnem não apenas onças, mas uma variedade de bichos e de personagens que circulam pelas águas e pela floresta, além das próprias crianças e suas famílias. Tem também um tal “tatu-helicóptero”, vacas chifrudas, tesouros e até alienígenas que abduzem moradores nas noites sem lua…

Tecendo Saberes é um projeto da artista Marie Ange Bordas, realizado em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Festas e festejos

11, junho, 2015

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Junho é mês das festas de Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Comemoradas nos quatro cantos do país, as festas juninas vieram da Europa e transformaram-se no encontro com as culturas brasileiras.

Na região Norte, sobretudo nas comunidades quilombolas, além do aspecto religioso, perpetuar festas e festejos herdados é uma forma de fortalecer elos de cultura e identidade.

Trata-se de uma resistência cultural similar à de seus antepassados, que inseriram nos cultos religiosos não só instrumentos, músicas e danças africanas, mas também sua maneira de socializar memórias e saberes.

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Na comunidade de Silêncio, no Baixo Amazonas, os mais velhos e as professoras tentam recuperar e manter viva a tradição do marambiré, também chamado de “Ai uêh a São Benedito”.

Folia religiosa muito antiga, com cantorias, ladainhas, valsantes, rei e rainha, o festejo era o momento em que os escravos pagavam suas promessas por se tornarem livres da escravidão.

“Era demais de bonito”, conta dona Marianinha, que ensina as cantorias até hoje para a criançada. “Tinha violão, cavaquinho, pandeiro, maracá e caixa grande. Quando não podiam ir por terra, embarcavam numa canoa e saiam cantando pelo rio.”

O projeto Tecendo Saberes foi idealizado pela artista Marie Ange Bordas, realizado em parceria com o Instituto Catitu e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Vem brincar com a gente

29, maio, 2015

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Dia 28 de maio é o Dia Mundial do Brincar. “E precisa de um dia pra isso?”, dirão uns. Precisa, eis a resposta. A data tem um objetivo importante: lembrar os adultos que brincar é parte intrínseca do desenvolvimento, e é necessário preservar e também respeitar essa atividade. Jogar junto com as crianças, então, melhor ainda.

É brincando que as crianças aguçam sua criatividade e aprendem como a comunidade ao seu redor funciona. É assim que elas recebem as primeiras noções de valores como laços de amizade, respeito e solidariedade, entre tantos outros.

Nas visitas às crianças do Baixo Amazonas, no Pará, e da aldeia São Vicente, no Acre, a equipe do Projeto Tecendo Saberes brincou bastante e também aprendeu muito. Aprendeu que, nas comunidades ribeirinhas em que o campinho alaga, há garotos que jogam bola até na chuva, como o Levy. Que a pira é o mesmo que pega-pega, e que pira é o mesmo que coceira. Ou seja: quem “está com pira” tem de correr pra não pegar a coceira!

Para essa criançada, tudo vira brinquedo: pedaço de pau vira carrinho, pau de jacuzeiro vira taco de bilharzinho, folha de bananeira vira boneca.

Entre o povo Huni Kuĩ, todo mundo brinca: criança, moço, adulto e os mais velhos. À tarde, meninos e meninas sempre jogam futebol. Outro que tem muitos adeptos é o cabo-de-guerra.  Mas também tem a brincadeira da cana, quando alguém segura no alto um pedaço de cana-de-açúcar e os outros precisam pegá-lo. No geral, as brincadeiras desse povo tem como forte mostrar quem são os mais rápidos, fortes e corajosos.

Brincar é uma ferramenta poderosa no aprendizado. Convivendo, conversando e lidando com o lúdico, as crianças passam a valorizar os saberes e fazeres das comunidades tradicionais a que pertencem, tornando-se, assim, jovens cidadãos mais críticos e conscientes do valor de sua cultura.

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Meninas e meninos também ajudam

26, maio, 2015

 

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Criança não trabalha, mas pode ajudar nas tarefas domésticas. Nas comunidades quilombolas e Huni Kuĩ, todo mundo colabora, a começar de pequeno, e essa rotina ajuda a reforçar a identidade dessas culturas tradicionais. Afinal, não é só na escola que a gente aprende. É participando das pescarias, da caça, da roça, da cozinha, do cuidado com as criações, que as novas gerações descobrem as técnicas e os segredos da vida ribeirinha e indígena.

Foi convivendo, conversando e trocando informação que tecemos o “Manual das Crianças do Baixo Amazonas” e o “Manual das Crianças Huni Kuĩ”, numa dinâmica colaborativa em que crianças e jovens lideram o levantamento de aspectos relevantes de sua cultura.

Nas cinco comunidades quilombolas em que estivemos, vimos que há muita coisa em comum. O puxirum, por exemplo, é a forma como eles trabalham, em sistema de mutirão, com a participação dos mais novos também. Assim fazem a roça da mandioca, limpam o igarapé ou a estrada. A família que chama os vizinhos para o puxirum é quem sempre oferece a comida!

O dia a dia na terra indígena Kaxinawá do Rio Humaitá, no Acre, começa assim que o sol nasce. Está entre as atividades das garotas Huni Kuĩ ajudar as mães a lavar os pratos e a roupa na cacimba ou no igarapé, buscar água, ajudar a varrer a casa e o terreiro. Os meninos pegam lenha, dão comida às criações e acompanham os pais na caça e na pesca.

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

A farmácia é logo ali

22, maio, 2015

Hoje é o Dia Internacional da Biodiversidade e o Brasil, considerado o país da “megadiversidade”, tem o que comemorar: nesta semana foi sancionada a lei que regulamenta o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado.

Essa legislação é uma conquista importante para os povos tradicionais, que passam a ter o direito de participar das decisões sobre conservação e uso sustentável de seus saberes. É importante também valorizar esses conhecimentos: foi a partir deles que a indústria farmacêutica desenvolveu muitos dos remédios que usamos atualmente.

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Coletamos a partir das conversas com as crianças muitas curiosidades das culturas tradicionais brasileiras. A partir da observação da natureza, pajés, benzedores e curadores descobriram remédios naturais para várias enfermidades. Seja nas comunidades quilombolas, seja na aldeia indígena, há uma grande vantagem em morar perto da floresta: a farmácia é logo ali!

Esses saberes vão sendo transmitidos de pai para filho. Em nossas visitas, ao fomentar o diálogo intergeracional e reconstituir laços sociais, buscamos promover o protagonismo infanto-juvenil e a formação de jovens cidadãos críticos e conscientes do valor de sua cultura.

Por meio de um processo participativo, o conhecimento vai sendo tecido através de atividades lúdicas, muita conversa e troca, estimulando  as crianças e jovens dessas comunidades a liderar o processo de levantamento, produção e representação dos aspectos de seu cotidiano.

O povo Huni Kuĩ, da aldeia São Vicente, no Acre, tem uma maneira ótima para espantar desânimo, raiva, preguiça e até panema. Quando alguém está panema, a coisa fica feia. Essa pessoa não consegue caçar, pescar nem arrumar namorado ou namorada.

Para que tudo isso passe, basta pingar sananga nos olhos. Sananga é uma planta que tem uma raiz poderosa: o líquido vira um colírio. A solução faz parte da cultura do sagrado desse povo e é dolorida: vai arder, seus olhos vão ficar vermelhos e até inchar, mas os Huni Kuĩ dizem que espanta até maus espíritos!

A Varluce, da comunidade do Silêncio (Pará), mostrou um banho bom para quando a pessoa está com judiaria de bicho ruim. É só usar as folhas de mucuracaá, que também são boas para diminuir inflamação e ajudam a combater artrite.

É como nos ensinou o seu Waldemar, de Cachoeira Porteira (Pará): “Na floresta, não tem uma folha que não seja remédio”.

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Com a palavra, os professores

18, maio, 2015

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Professores de escolas públicas das áreas mais remotas do Brasil se dedicam a tentar preservar os saberes e fazeres de suas comunidades através de iniciativas próprias ou fomentadas por programas governamentais. Mesmo assim, em quase todos os lugares por que passamos ainda existe uma lacuna de materiais pedagógicos que aborde temas locais.

Uma das grandes inspirações para o Tecendo Saberes foi a demanda dos próprios professores por esse tipo de material. Por isso uma parte essencial do projeto são encontros com professores e mediadores para pensarmos juntos maneiras de utilizar os manuais em sala de aula e inspirar novos projetos locais.

Foi o que aconteceu em Cachoeira Porteira (PA). Com o “Manual das Crianças do Baixo Amazonas” em mãos, os professores  passaram a enxergar nele um material de trabalho. “O que me chamou muito a atenção foi o despertar dos alunos, eles próprios estarem se vendo no livro”, disse o professor Robson Cordeiro Rocha, que dá aulas há 10 anos.

“É uma fonte pedagógica para construir com os alunos um novo olhar nas questões da realidade da comunidade”, afirmou Adriana Helena Silva de Souza.

A professora Nazaré Tavares diz que agora vai dar mais valor ao que tem em sua comunidade: “Já conhecia esses saberes todos e não os valorizava. Por exemplo, eu tenho a castanheira perto da minha casa e não valorizo essa cadeia inteira. Nunca falei na minha turma da alimentação dela, como eu posso extrair [os frutos], como posso manusear. O livro vem clarear as minhas ideias”.

Ao folhear o livro, se inspirou e começou a montar uma aula: “Na educação infantil, quero trabalhar a parte dos nutrientes da castanha, trabalhando com desenhos, e depois, pedir material [as castanhas]. Vamos confeccionar um mingau e tomar juntos. Dá para trabalhar matemática, linguagem oral e escrita, artes plásticas e visuais. Tudo!”

Os castanhais serão objeto de trabalho na aula de geografia do professor Robson Cordeiro Rocha, também de Cachoeira Porteira. “Irei trabalhar os castanhais da região. Tem muitos alunos e até adultos que não conhecem os nomes dos castanhais. Por exemplo, o Castanhal do Pirarara, que é muito distante e leva três dias para chegar lá, e há castanhais próximos, em que o coletor vai de manhã e retorna à tarde. E também [vou abordar] a diferença que há entre castanhais de regiões de cachoeiras e os dos lagos.”

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Bichos chatos e aos montes

15, maio, 2015

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Em São Paulo, o inimigo público número 1 hoje é um insetinho minúsculo, o Aedes aegypti, que é famoso por transmitir a dengue. Em outros lugares, ele também não é bem recebido por ser o mosquito transmissor da malária e, mais recentemente, entrou nos noticiários a história de que a febre chikungunya também é disseminada por ele.

Enquanto o pessoal dos hospitais paulistas tem de se preocupar com um só mosquito, a vida de quem mora na região Norte é bem mais dinâmica. No chão, nas árvores, na água e no ar: onde você estiver, vai encontrar algum inseto pelo caminho.

Nem todos trazem doenças, é verdade. Abelhas ajudam na polinização, joaninhas protegem algumas plantas, paquinhas são inofensivas e fazem cosquinha na nossa mão, e todos são importantes para o ecossistema.

Mas alguns são bem chatinhos, como as vespas (que por lá chamam de cabas) que dão ferroadas doloridas e em grupo e as formigas tucandeiras que encontramos em Cachoeira Porteira (Pará) e que ferram pra valer _ a dor dura até 24 horas!

A sorte é que as crianças quilombolas são espertas e usam seus saberes para lidar naturalmente com os insetos. Conhecem por nome cada espécie e sabem se picam ou se são inofensivos. Na época da cheia, quando os mosquitos (ou carapanãs) atacam sem dó, elas têm um jeito fácil de espantá-los: botar breu no fogo e espalhar a fumaça!

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.

Tradições em movimento

14, maio, 2015

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O foco do Projeto Tecendo Saberes é valorizar e disseminar as culturas tradicionais brasileiras através do olhar de suas crianças. Mas quando pensamos em “tradicional”, não pensamos numa ideia estanque de tradição, aquele mito do saber intocável que só pode ser perpetuado na transmissão pura do conhecimento dos mais velhos.

Toda cultura é dinâmica e está em movimento! É por isso que priorizamos uma metodologia dialógica e participativa onde as crianças são os protagonistas e catalisadores do levantamento e representação de aspectos de suas culturas a partir dos saberes e fazeres construídos no seu cotidiano.

Ao deixar às crianças este papel, elas acabam naturalmente apontando o valor dos conhecimentos dos mais velhos, interagindo com estes de forma lúdica e curiosa e se dando conta da importância de preservá-los.

O projeto nas comunidades que visitamos nasceu da preocupação compartilhada em valorizar suas identidades culturais e não deixar alguns conhecimentos ancestrais desaparecerem.

Como chamar a atenção dos mais novos para algo que existiu há tanto tempo? Como mostrar que suas raízes também estão na dança típica afro-brasileira, no modo de colher e preparar um fruto? E o  caminho escolhido foi deixar que as próprias crianças se dessem conta dessa importância brincando.

Nas conversas organizadas ou espontâneas das crianças com as pessoas mais velhas de suas comunidades, misturam-se os saberes e fazeres de antigamente com os saberes e fazeres atuais, dando origem a um produto totalmente novo.

O resultado é surpreendente para as crianças, para os professores e, principalmente, para os mais velhos.

Para as crianças, porque o processo de coleta de informações faz com que se sintam empoderadas e curiosas com a própria cultura.

Para os professores, por proporcionar um material pedagógico criado com conteúdo totalmente local que pode ser usado em diversas disciplinas.

Por fim, para os idosos, que, ao se depararem com os seus saberes transformados em um livro, nos disseram, várias vezes, emocionados, que “agora já posso morrer”, pois suas histórias e seus conhecimentos estavam impressos.

Separamos dois “causos” bacanas: a conversa das crianças indígenas com a avó Zenaide e a dos meninos quilombolas com dona Mariquinha, que, aos 65 anos, ainda trabalha no castanhal.

Dona Zenaide não fala português e diz que uma grande diferença entre o tempo dela e o de hoje é essa: as crianças atuais não só aprendem o português como não falam muito em Hãtxa Kuĩ, o idioma Huni Kuĩ, entre si. Ela conta que passou por maus bocados: viveu em tempo de guerra entre indígenas, foi escravizada por seringalistas e até pegou sarampo dos brancos. “Nossos parentes nunca viviam em paz. Hoje não tem mais guerra”, conta a avó.

Dona Mariquinha diz que não tem medo de nada e que aprendeu aos 13 anos com o pai a extrair a castanha-do-pará. É preciso ter força, coragem e atenção para ser um bom castanheiro: alguns deles ficam dois ou três meses direto na floresta, acampados, para fazer a coleta. “Minha vida é trabalhar. Se não puder vir pra castanha, eu fico doida!”