Sabido como o Japiim

25, agosto, 2014

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Entre os muitos pássaros das matas do povo Huni Kuin, alguns são especiais. O cancan-puru avisa se a caçada terá sucesso ou o canto do uru é sinal de chuva. Já o japiim (txana para os Huni Kuin) é uma ave amarela e preta que sabe imitar todos os outros pássaros e até alguns mamíferos como a ariranha.

A adolescente Sia Kaxinawá, que carrega um colar com o bico do japiim, conta que “ser txana” significa ser esperto, sábio, com boa memória. “O que ele escuta ele aprende”, diz Sia. Os Huni Kuin fazem o batismo do japiim,
“para ficar igual o japiim”, diz Sia; “nunca fiz, mas já olhei os mais velhos fazendo na aldeia com jovens de 15 a 18 anos”.

Para fazer o batismo, é preciso caçar um japiim. Tiram o bico da ave e a deixam secar. “Aí machuca o bico na pimenta malagueta e coloca na língua. Tem que aguentar, não pode cuspir. Arde, arde, dói, dói”, Sia explica. Maria Luziane de Paula Paulino, a Dani (nome em Hãtxa Kuin), já participou duas vezes do batismo do japiim e quer que os filhos participem do ritual quando estiverem mais crescidos. “O japiim pode ouvir alguém cantando de longe, mas, quando chega na casa dele, lembra de tudo”, conta.

Uma música é cantada durante o batismo. Fala dos pássaros encantados, “os parceiros do japiim”, arara e uirapuru, periquitinho-estrela, fura-barranco, todos misteriosos. A canção evoca a memória do japiim. Luziane escreveu a música, que é assim:

“Susuke susuke
Xia rutã rutã tãtãneee
Tsikiris tsikiris iwane
Ayei bayei
Taxna dua huyei, pitsu dexi huyei
Bawa dexi huyei
Mawa isa huyei huyei
Kãi ash ash kãini